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O ACOMPANHAMENTO TERAPÊUTICO EM TEMPOS DE PANDEMIA

 

Momentos de exceção exigem medidas criativas, urgentes e responsáveis.

E, é por isso mesmo, que o acompanhamento terapêutico tem introduzido algumas modificações em sua forma de trabalhar e atender os pacientes. Claro que a essência deste trabalho é o “acompanhar” físico, o contato direto entre as pessoas e o transitar entre os diversos espaços da cidade.

 

Nessa época em que estamos vivendo, em que todo contato físico e próximo, principalmente com os idosos tem que ser evitado, é imperioso pensar em novas formas de relacionamento terapêutico. É fundamental que os pacientes não fiquem desassistidos e nem sucumbam a qualquer problema psicológico maior, fruto do momento de medo, insegurança e isolamento a que estão sujeitos.

 

Pensando nisso, é que faço, nesse momento de crise, atendimentos online. Seguindo sempre os princípios da ética e do respeito ao paciente, encontro-me virtualmente com ele com a mesma frequência (ou maior, se for o caso) que havia nos encontros presenciais. Apesar de não podermos nos deslocar, mantemos aberto nosso canal de interação e acolhimento.

 

Certamente, outras e novas preocupações e situações vão surgindo, decorrentes da vivência atípica do momento. Para enfrentá-las são necessárias novas ferramentas e mudança de abordagem, sem perdermos, no entanto, os princípios que norteiam a prática do Acompanhamento Terapêutico. Associações de Acompanhantes Terapêuticos, principalmente as Argentinas, têm debatido e refletido muito nestas alterações necessárias no intuito de sempre continuar os atendimentos da melhor maneira possível.

 

Sinto-me, portanto, à vontade para propor e oferecer atendimentos que, mesmo sendo à distância, procuram ajudar as pessoas a enfrentarem, com equilíbrio e confiança, essa profunda alteração em suas vidas, interrompidas que estão, momentaneamente, em função da pandemia do Covid-19.

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ACOMPANHAMENTO TERAPÊUTICO

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O AT entra na vida da pessoa através de um pedido de ajuda. 

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No caso do envelhecimento, o pedido está na companhia necessária à travessia... Travessia de um rio que se tornou mais caudaloso e mais acidentado e, para o qual, as ferramentas conhecidas já não servem mais.

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Ao estender a mão ao outro, o AT se torna companheiro e cúmplice no processo. Ele apresenta novos recursos para o enfrentamento da caminhada dura e ,muitas vezes, sofrida na senda do envelhecimento e das perdas constantes que ele acarreta.

 

Estar ao lado, interagir com estas necessidades e, acima de tudo, oferecer tempo para sua escuta, são fundamentais. 

 

Neste caso, o relógio da pressa é substituído pelo da calma e da escuta cuidadosa e participativa. O sujeito deve sentir que se restabelece, nesta relação, o valor do contato humano , da verdadeira interação, em contraponto às inúmeras intervenções às quais ele é exposto.

 

A partir do momento em que a pessoa passa a ter lugar efetivo na relação, e que, portanto, sua voz e desejos são ouvidos, é que ela pode se abrir para novos projetos.

 

É claro também que esta abertura estará sempre vinculada às potencialidades físicas e psicológicas de cada um. Mas, de qualquer maneira, a retomada do lugar de " sujeito", engendra a possibilidade de criação. 

 

Como a finitude e as limitações podem ser aspectos marcantes na vida das pessoas idosas, cabe ao AT  também ajudá-las no enfrentamento destes limites. 

 

Ressignificar a vida significa também compreender a morte .

 

O AT se caracteriza então pela presença ativa ao lado do acompanhado, para que ele se sinta mais seguro , para que ele possa fazer sua reinserção no ambiente social e para que, principalmente, possa se reencontrar, com mais segurança e menos angústia.

 

Na caminhada pela vida, passamos todos por momentos de insegurança e desamparo.

E, em cada um dos diferentes momentos em que estes se manifestam, procuramos auxílio. Este pode se converter em mais laços sociais, dentro e fora da família, até caracterizar procuras e amparos de ordem religiosa ou espiritual.

 

De qualquer maneira, sempre estamos olhando ao redor à procura de alguém ou algo que nos proteja, nos ampare, nos acolha e nos acompanhe.

 

Se pudermos alterar os espaços e as vivências de " acompanhante" e " acompanhado", poderemos experimentar a riqueza das relações humanas de troca e alteridade.

 

Na longa jornada da vida, somos sempre convidados a receber o outro , a lhe oferecer um olhar sincero e a experimentar a humildade de podermos também solicitar abrigo.

 

É no movimento incessante destas trocas que construímos nossa humanidade.

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A SOLIDÃO DA POPULAÇÃO IDOSA

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Estudos feitos em grandes universidades (Universidade de Chicago, Universidade Brigham Young e Universidade York) constataram a estreita relação entre a solidão e o adoecimento. A solidão pode acelerar o risco de morte de idosos em até 14%, aumentando 29% o risco de desenvolverem doenças coronarianas e 32% o risco de acontecerem acidentes vasculares encefálicos.

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Se a solidão afeta tanto a saúde física, como não imaginar o seu impacto na saúde mental de quem dela padece?

De fato, a solidão pode levar também a quadros depressivos bastante graves. Entramos, então, num ciclo bastante perigoso de doenças que acabam, umas levando a outras e, às vezes, chegando até mesmo às demências.

 

A solidão é, sem sombra de dúvida, um dos grandes inimigos do bem-estar e da qualidade de vida dos idosos. Se, por um lado temos conhecimento desta realidade, temos também, por outro, conhecimento suficiente sobre a importância da socialização e dos laços afetivos significativos como antídoto poderoso e eficaz contra estes graves problemas.

 

Entendo, pois, ser de extrema importância a prevenção destas situações oriundas do isolamento social.

Como profissional e estudiosa do envelhecimento humano, enfatizo a importância e o valor do cuidado e da prevenção, tanto de doenças físicas, quanto dos aspectos que envolvem a vida cotidiana, o entorno social e a qualidade das relações sociais dos idosos.

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O ACOMPANHAMENTO TERAPÊUTICO E O PACIENTE COM DOENÇA DE ALZHEIMER

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A crescente incidência de Doença de Alzheimer na população mais idosa leva-nos a pensar em possíveis intervenções que vão além dos cuidados básicos gerais. Nesse sentido o Acompanhamento terapêutico contempla uma dessas possibilidades.

A intervenção do Acompanhante terapêutico tem como objetivo oferecer melhores momentos a estas pessoas, mesmo que sua lembrança desapareça rapidamente depois.

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O presente é o único tempo que é dado para estes pacientes viverem. E é nele que nos encaixamos. Entramos como suporte e ajuda nesta fração do presente. Conversamos, ouvimos, evocamos músicas significativas, passeamos para ver o mundo e despertamos a capacidade de admirar e de se maravilhar com as coisas. Resgatamos o que ainda é possível resgatar e procuramos criar momentos de bem-estar, alegria e esquecimento do esquecimento.

 

No caso das pessoas com Doença de Alzheimer, o Acompanhante terapêutico visa também preservar, pelo maior tempo possível, as habilidades cognitivas do paciente procurando, em certo sentido, retardar o progresso das perdas inevitáveis.

O olhar profissional tem por função decodificar o sentido da comunicação especial das pessoas com demência oferecendo-lhes um espaço de diálogo e compreensão. Além de tudo o que já se conhece sobre as tantas perdas que sofrem, é importante também considerarmos e atentarmos para as habilidades que eles conservam. E é exatamente focando nessas capacidades que o Acompanhante terapêutico trabalha, enfatizando mais nas possibilidades e menos nos prejuízos.

 

O pensamento intuitivo e a sensibilidade são aspectos muitas vezes preservados que podem propiciar muito prazer e alegria se forem adequadamente estimulados. Procuramos tirar os pacientes do seu isolamento, principalmente mental, e criar possibilidades de comunicação, mesmo quando ela já se encontra limitada e circunscrita a repetições. Nesse trabalho criamos oportunidades de intercâmbio afetivo. A comunicação, neste caso, não se centra nos aspectos da realidade objetiva, mas, sim, na realidade interior e subjetiva de cada paciente. Por isso cada intervenção do Acompanhante terapêutico é pensada para cada caso específico, já que cada um vive a demência de maneira própria e individual. O trabalho deve ser também o mais plástico possível para abarcar todas as “surpresas” que podem ocorrer nesta relação.

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Além do trabalho com o paciente em si, o Acompanhante terapêutico procura ajudar os cuidadores destas pessoas a criarem um ambiente físico e de relação mais tranquilo, para que os comportamentos adversos possam ser, se não controlados, pelo menos reduzidos. A ideia é, portanto, trabalhar para gerar situações de prazer, preservando e estimulando as capacidades cognitivas e de socialização ainda presentes, além de acompanhá-lo, com braço amigo, na viagem ao território do desconhecido.

 

O Acompanhante terapêutico deve se tornar a referência conhecida que dá segurança e que traduz constantemente o mundo para aquele que está perdendo a capacidade de entendê-lo.

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AS HISTÓRIAS DE TODOS NÓS...

 

"Todos nós temos uma história para contar" (Lisa Sanders)

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Estamos todos recheados de histórias! As nossas, as de nossas famílias e as de todos nós. Desde sempre, os homens contavam histórias uns aos outros como forma de transmitirem aos seus descendentes o roteiro de sua própria vida, da vida de seu grupo e da vida sonhada, imaginada, numa ilha desconhecida da natureza ou de sua própria imaginação.

 

A narração sempre foi usada pelos mais diversos povos para entretenimento, para registro de sua era, e para estreitarem os laços afetivos e de sua comunidade. A transitoriedade da vida reserva a cada um de nós a possibilidade de nos tornarmos eternizados através de nossas histórias e de nossas contribuições às gerações futuras, na felicidade de deixarmos nosso próprio legado.

 

A arte, e mais especificamente a arte de contar histórias, se vale da linguagem, da imaginação e do encantamento para penetrar no inconsciente das pessoas oferecendo-lhes recursos para manejarem suas experiências e conflitos.

Abrir a porta da imaginação é criar um atalho para a ressignificação simbólica através da beleza e da sensibilidade que a arte propicia.

 

Vários estudos demonstram o poder curativo das histórias... Elas nos levam para além do cotidiano e da realidade objetiva... Elas nos induzem ao "sonhar acordado", ao trânsito mais fluido entre o consciente e o inconsciente. Este nos possibilita reconectar com parcelas esquecidas de nosso ser, acessar conteúdos encobertos e a reconsiderá-los no percurso significativo de nossa existência.

 

Mesmo que a história se passe no mundo do imaginário, ela possibilita ao ouvinte transferir aspectos de sua narrativa para o mundo real, sendo esse, portanto, um dos caminhos abertos à cura e ao reequilíbrio.

Enfim, as histórias nos aproximam de nós mesmos e dos outros, sejam eles nossos conhecidos, nossos antepassados, nossos ancestrais; sejam eles, antes de mais nada, pertencentes à enorme família humana!

 

Clarissa P. Estes, uma das mais famosas psicólogas jungianas da atualidade, profunda estudiosa do poder das historias e ela mesma contadora, nos diz que:

 

"As histórias conferem movimento a nossa vida interior e isso tem importância especial nos casos em que a vida interior está assustada, presa ou encurralada. As histórias lubrificam as engrenagens, fazem correr a adrenalina, mostram-nós a saída é, apesar das dificuldades, abrem para nós portas amplas em paredes anteriormente fechadas, aberturas que nos levam à terra dos sonhos, que conduzem ao amor e ao aprendizado..."

 

Incluir as histórias e a sua narrativa no contexto da medicina significa povoá-la e repovoá-la da humanidade que se sente ameaçada pelo excesso de tecnicismo e pela falta de tempo para o "ouvir" atento e cuidadoso ao que o paciente conta.

 

O médico precisa ouvir a história do paciente para, através dela e com ela, poder reescrever o capítulo no qual seu personagem tem o poder e a honra de se tornar um coadjuvante precioso.

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AT e DOENÇA DE ALZHEIMER

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Muito tem sido escrito sobre as perdas cognitivas associadas à DA e, para amenizá-las, há muitos trabalhos e intervenções clínicas na  área da "estimulação cognitiva".

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O que se nota, no entanto, é que ao largo dessas deficiências, há outras tantas dificuldades que assombram o paciente e seus familiares.

 

As alterações de comportamento e psicológicas são bastante acentuadas e, além de afetar enormemente o doente, são situações de manejo difícil e desgastante para os cuidadores e familiares envolvidos neste cuidado.

 

O paciente requer apoio, ajuda quase que constante. As avaliações devem ser frequentes e as medidas tomadas devem ser rápidas e maleáveis. Cada momento pode exigir uma atuação específica e bem orientada.

 

Nesses casos, o trabalho em equipe torna-se muito importante e o acompanhante terapêutico passa a integrar este núcleo de atendimento como alguém que, estando bastante presente no ambiente em que o paciente vive, tem também a possibilidade de ser a "ponte" entre a situação que se apresenta e o médico agilizando-se, assim, o atendimento e as intervenções necessárias.

 

Dentre os vários distúrbios de comportamento e psicológicos associados à Doença de Alzheimer, salientamos os mais frequentemente observados: apatia, falta de vontade de participar de atividades sociais, tristeza, depressão, desorientação frente à vida, agressividade,  labilidade no humor, dentre outros.

 

Os estudos publicados sobre o tema são unânimes em apontar a importância da associação de terapias não medicamentosas às medicamentosas. Dentre essas, a prática de atividades físicas leves, a organização de rotinas diárias, a participação em atividades prazerosas e a conversa com pessoas que tragam calma e que tenham paciência e empatia para apoiá-las. 

 

O trabalho de acompanhamento terapêutico tem exatamente este perfil: propor estratégias para facilitar a reinserção do individuo no meio social, programar atividades variadas, e de acordo com o perfil do atendido, e acompanhar o paciente em todas elas. 

Ao estar ao lado do paciente, o "AT" o auxilia a identificar lugares e interagir positivamente, conversa com ele e, através de uma atenção participativa, lhe oferece a possibilidade de atuar sozinho, e com autonomia, sempre de acordo com suas possibilidades.

 

Estar atento, propor atividades e rotinas, auxiliar o paciente a ter uma vida melhor e dar suporte e contenção ao seu sofrimento psíquico, é o seu trabalho.

 

Evidentemente, associada a esta atuação há também o trabalho de apoio e de orientação aos familiares e cuidadores "in loco", ajudando-os na organização do ambiente adequado e dando-lhes atenção e orientação na difícil e árdua tarefa de cuidar de uma pessoa com Alzheimer.

 

Enquanto houver possibilidade de transformar o sofrimento e as perdas em momentos de satisfação, de criatividade e de alegria, o "AT" deve atuar no sentido de criar alternativas de intervenção que visem o bem-estar e a realização do paciente.

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"O CALENDÁRIO SEM DATAS"

 

Acompanho da Joana (nome fictício) há alguns anos e tenho presenciado a violência destruidora da Doença de Alzheimer.

 

Pessoa culta, inteligente, poliglota e com uma linda e tumultuosa história de vida, Da. Joana está reduzida a um mosaico de lembranças que, como um quebra-cabeça revolvido, não se pode mais montar adequadamente.

 

Presente, passado, vivos e mortos, todos rondam sua casa, sua imaginação, sua vida, aparecendo e desaparecendo, engendrando histórias que lhe fazem sentido e que compõem seu imaginário e sua própria realidade. Os mortos se tornam presentes e fazem parte da vida de Da. Joana como se estivessem todos aí, participando de sua rotina. Algumas pessoas desapareceram da memória, outras passaram a reviver (que delicia poder trazer de volta nossas pessoas queridas!) e fazer parte de sua história momentânea (falamos de momentos ... ). Seus gostos, seus prazeres passados, sua história: estes se foram...

 

Até mesmo sua própria casa e seus pertences pessoais são, muitas vezes, irreconhecíveis e estranhos. Mas, são eles também grandes descobertas e, ao vê-los novamente, desperta-se o prazer e a alegria do encontro com objetos artísticos e belos: A arte sempre foi parte importantíssima em sua vida.

 

Mas, algo de fundamental se mantém firme, sólido e especial: o Amor, o prazer único de poder  falar, conversar, ser compreendida, acolhida e até tocada com carinho e delicadeza. Falamos muito de perdas na Doença de Alzheimer e nos esquecemos ("nós também!!!!!) que, muito além delas, uma  pessoa vive e têm sentimentos e emoções que falam mais alto que nossas simples relações lógicas, espaciais e temporais.

 

Então , nesse contexto, onde se situa e o que caracteriza o trabalho de Acompanhamento Terapêutico?  Como interagir com uma pessoa que, ao mesmo tempo em que me reconhece, não consegue me situar no tempo cronológico; mas sim, no tempo das nossas conversas?

 

É aí, exatamente aí que reside a riqueza, a alegria de nossos encontros.e a sutileza e emoção  do acompanhar!

 

Nossa relação, feita de diálogos únicos, de risadas, de conteúdos fantasiosos é uma troca de afeto e amor!

 

Ouvir, estar presente, ser capaz de conversar, esquecendo-se dos parâmetros do tempo cronológico e da lógica : aí reside o AT!

 

Acolher lembranças, flutuar na névoa das sinapses rotas, não forçar construções de quebra cabeças insolúveis, mas poder montá-los de forma diferente a cada  novo encontro...

Aproveitar o tempo do convívio de tal maneira que ele seja valioso, significativo e belo no instante em que possa ser desfrutado! Viver e apreciar as coisas belas, as flores, o jardim, as lembranças...os diálogos gostosos.. O momento, aquele que agrega valor à vida presente, é o tempo que se permite ser vivido com enorme satisfação. 

 

É nesse "ponto" do tempo em que acontece o florescer da relação significativa possível.

 

Sinto-me muito feliz quando, em cada nova visita, sou reconhecida e posso manter conversas em idiomas misturados e entrelaçados, idiomas de lembranças e que são formuladas num vocabulário preservado e afiado.

 

Sinto-me emocionada quando tenho dificuldade em partir...

Anuncio minha saída após, no mínimo, duas horas, e há sempre algo mais a ser dito e compartilhado... 

 

No último encontro, Da. Joana me disse que eu não deveria ir... Ainda tinha mais 929 perguntas para me fazer...

Não foram muito menos os beijos que recebi no portão... Será que esquecera os que já tinha me dado ao dizer-me,"tchau, até  breve", ou seriam esses a manifestação de um enorme amor, de um prazer tão grande que nenhum diagnóstico, por mais cruel que seja, é capaz de aniquilar?

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RETRAIMENTO SOCIAL E TÉDIO NOS IDOSOS

 

Em algum momento da vida, todos nós vamos nos desapegar de objetos, pessoas, relações e até de papéis sociais. A chegada da aposentadoria, a síndrome do ninho vazio, a viuvez e as variadas limitações, nos deixarão cara a cara com algo precioso porém, nem sempre, de fácil manejo: o "tempo"!

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O tempo que corre, que passa rápido demais, que circunscreve nossa história. Mas, também,e de repente, o tempo que não passa e que tinge as folhas do calendário de um cinza invernal e triste.

 

A individualidade e a história de vida de cada um é que irão determinar a maneira como essa fase será vivida.

 

Um envelhecimento positivo supõe um tempo livre "ocupado": ocupado por afazeres que permitam aos idosos se sentirem ativos, úteis e que lhe possibilitem desenvolver projetos que devolvam sentido à vida e motivação para vivê-la em sua plenitude possível. É por isso que acredito que propor atividades que simplesmente preencham o tempo podem enfatizar os déficits da pessoa (ênfase na reabilitação ou atividades desconectadas com a biografia) em lugar de ressaltar e desenvolver suas potencialidades.

 

Toda e qualquer atividade tem que ser desenvolvida com base na trajetória vital, tem que ser baseada numa liberdade de escolha e numa motivação intrínseca. Portanto, tem que ser algo diferente da rotina diária, do ambiente físico e emocional a que a pessoa está vinculada, e que favoreça práticas de convivência, de contato com a arte, de conversas novas... Enfim, de tudo o que rompe com a mesmice e com os efeitos estressantes da rotina, das queixas e do tédio.

 

Fala-se muito na "Síndrome do Burnout"; esgotamento frente a um trabalho ou tarefa extremamente exigente e esgotante. Pouco se fala, no entanto, da "Síndrome de Boreout" (do inglês,"boredom") ou tédio excessivo. Esse conceito foi cunhado no campo do trabalho, mas está sendo, aos poucos, transplantado para outros contextos da vida humana.

 

O tédio excessivo é paralisante e leva a doenças físicas e mentais, dentre elas, na idade adulta e na terceira idade, a depressão e as demências.

     

São cada vez mais frequentes pessoas que sofrem muito com a solidão, com o isolamento social e com a perda de vínculos sociais.

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O acompanhante terapêutico se aproxima dessas pessoas com um olhar e uma prática profissional específicos: propõe atividades e companhia diferenciadas que devem possibilitar as pessoas voltar a colorir seu calendário com as cores do arco íris: da alegria, da esperança e da vida criativa, harmoniosa e saudável.

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